sexta-feira, outubro 07, 2005

Cérebro - Amor Recíproco (working title)


G randes máquinas, girando erroneamente e batendo umas nas outras em fortes baques.
Será que estou sonhando?
Centenas de cobertores envolvem meu corpo, um calor insuportável aflora. Quanto mais tento livrar-me deles, parece que mais e mais outros surgem por cima.
Tem de ser um sonho...
Sinto frio; levanto-me de um salto, o chão também frio, assim como a noite lá fora; e em meio ao caos mental, só uma coisa me ocorre – um banho!. Ao passo que uma frenética luta entre maquinas gigantescas é travada em minha mente.
Não, isso não é um sonho.
A água do chuveiro cai, tudo gira, tudo permanece no mesmo lugar, a aflição e o pânico predominam.
Febre. Minhas pernas enfraquecem, é como se eu tivesse sido ligado no 220 volts; como se alguém tivesse acelerado monstruosamente o tempo, enquanto eu, permaneço em câmera lenta.
O que está acontecendo comigo?
Milhares de pensamentos brotam em meu cérebro, são tantos que mal posso identifica-los.
O desespero não pára, a cada segundo penso – como se já não estivesse transbordando de pensamentos acelerados – que minha pressão deve estar alta demais, ou baixa. Não sei, só sei que estou ficando maluco, delirante.
O que... minha mulher... meus filhos... pensariam... se me vissem... no banho... essa hora... madrugada?...
Vou de joelhos ao piso claro, chorando como a muitos anos não chorava, a água caindo em abundância pelas minhas costas. Clamo a Deus por melhora, por sanidade, por paz.
Agora de pé, desnorteado, olhos fechados; começo a cantar mentalmente, procurando relaxar, esvaziar minha mente, meditando e ainda chorando.
Minutos se passam, finalmente começo a ter algum controle interior, tranqüilidade e, pela primeira vez desde então, uma certa noção de espaço, tempo e movimento.
Desligo o chuveiro; pego aquela toalha azul, como um gato avança no rato. Uma rápida olhada no espelho, estou pálido, mais do que nunca o cansaço denunciando meus trinta e cinco anos. Coloco minha bermuda cinza, a regata branca, passo a mão pelos cabelos semi-grisalhos e volto pra cama.
As sensações de outrora voltam, mas desta vez estou no controle, apenas relembrando, perplexo, cada momento.
Como contar á minha esposa, Hellen, se nem ao menos eu consigo explicar pra mim mesmo?

Simplesmente não existem palavras para expressar o que aconteceu.
Ninguém jamais compreenderá... eu não sou louco, muito menos doente... não serei! Ou não me chamo Paul.

Hellen excluiu o arquivo em áudio do voice-mail confidencial do marido, temendo o pior.
Seria esse o real motivo de Paul Connor ter viajado para a Coréia do Norte? E por quê? Pra quê? Essas eram respostas que ela mesma teria que buscar.


– Cuide bem das crianças, mamãe. E muito obrigada... Devo viajar na quinta.

=_=

Um dia este será o capitulo de um livro. Um dia.
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